Museu

Dentro destas paredes guardamos máquinas, ferramentas, matérias-primas, chapéus.
Guardamos as histórias que a memória salvou.
Dentro destas paredes escondemos as histórias contadas em segredo das tristezas e dores que a memória não permitiu esquecer. Guardamos um mundo que é feito de ‘dedos mágicos’.
Dentro deste edifício, que foi um dia o da Empresa Industrial da Chapelaria, uma das mais importantes unidades fabris da cidade, nasceu a 22 de Junho de 2005, o Museu da Chapelaria, neste edifício onde primeiramente a indústria foi mecanizada, nesta cidade que foi um dos principais e mais importantes centros produtores de chapéus do País.
Quis-se perante as máquinas e ferramentas, matérias-primas e chapéus, memórias e histórias de vida, intervir o mínimo possível. Manter visíveis todos os traços de um longo percurso, e não camuflar aquelas que são as suas marcas do tempo, que as individualizam e as tornam verdadeiramente únicas.
Por isso, traz-se à luz do dia a máquina gasta pelo tempo e a memória de quem nela trabalhou, tal como é recordada, sentida e dita. E por isso também, quem um dia pacientemente nos ensinou, explicar-lhe-á hoje, com a mesma devoção, como era ser chapeleiro, como funcionava a máquina e como se fazia um chapéu.
São eles, ex e actuais operários, ex e actuais empresários da indústria da chapelaria que hoje recordam consigo esse mundo mágico.

Conceito e Vocação 
O Museu da Indústria de Chapelaria, tutelado pela Câmara Municipal de S. João da Madeira, é uma instituição de natureza permanente, com fins não lucrativos, criado para o interesse colectivo, com acesso regular ao público, que reúne bens culturais e a informação que lhes está associada, conserva-os, documenta-os, investiga-os, interpreta-os e difunde-os, com objectivos científicos, culturais, educativos e lúdicos e com finalidades de democratização da cultura, de promoção da cidadania e de desenvolvimento da sociedade.
Conceptualmente é um museu vivo, em contacto com a população local e com as suas dinâmicas sociais e culturais e com os seus diferentes públicos, sendo um espaço por excelência do "ver e aprender a fazer" e até do "fazer" verdadeiro, cabendo-lhe como função expor, explicar, ensinar, fazer e deixar fazer.
Orientado para a temática da Indústria da Chapelaria nos seus contornos de produção, comercialização, usos sociais e impactos económicos, o Museu da Indústria de Chapelaria assume-se como um espaço de reflexão, estudo e investigação de uma realidade que moldou toda a História do Concelho em particular e da Indústria em geral.
É um espaço socialmente activo e cultural e pedagogicamente útil, que evoca histórias e memórias, contribuindo dessa forma para aprofundar e divulgar o conhecimento da identidade e cultura sanjoanenses.

Missão
O MUSEU DA CHAPELARIA é uma instituição de natureza permanente, com fins não lucrativos, criado para o interesse colectivo, com acesso regular do público, que reúne bens culturais e a informação que lhes está associada, relacionados directa ou indirectamente com a indústria que lhe dá nome, conservando-os, documentando-os, investigando-os, interpretando-os e difundindo-os, com objectivos científicos, culturais, educativos e lúdicos e com finalidades de democratização da cultura, de promoção da cidadania e de desenvolvimento da sociedade.
Assim, são funções do MUSEU DA CHAPELARIA as seguintes:
• incorporação
• inventário e documentação
• estudo e investigação
• interpretação e exposição
• conservação e segurança
• educação.
É entendido por Bem Cultural todo o testemunho material e imaterial que constitui ponto de referência importante para o desenvolvimento humano, nomeadamente de interesse histórico, arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico e que reflecte valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade.
O Museu da Chapelaria de S. João da Madeira resulta fundamentalmente da vontade de preservar uma memória colectiva que as alterações da conjuntura industrial fazem tender para a perda e que, em S. João da Madeira, é especialmente significativa mercê da importância como centro industrial de chapelaria desta região
Essa memória colectiva consubstancia-se em elementos materiais (máquinas, ferramentas, locais, entre outros), elementos documentais (os arquivos das fábricas, recortes de jornal, correspondência particular, etc.) e testemunhos directos daqueles que participaram no processo de fabrico, comercialização e uso dos chapéus.
A vocação do museu é, nesta conformidade, estudar o objecto que elegeu, assumindo a tarefa de produzir investigação científica acerca dos seus aspectos mais significativos, preservar os testemunhos que dele existem (materiais, documentais e humanos), estudar esses testemunhos conferindo-lhes características de corpus científico, reunir e interpretar a informação disponível e, aspecto de suma importância, disponibilizar todo o trabalho realizado a um público tão vasto quanto possível.
O museu assume-se assim como entidade de preservação da memória, fazendo convergir para esse escopo fundamental a investigação, a conservação dos testemunhos disponíveis, o trabalho de documentação sobre esses testemunhos, a interpretação do material reunido e produzido e a tarefa indispensável de associar o público à sua existência.
O museu tem uma agenda social de onde emerge a necessidade da relação íntima com os públicos conquistados e a vontade de assumir públicos potenciais.
O museu actua também como um pólo socialmente activo, de congregação de um conjunto de pessoas que um dia trabalharam na indústria de chapelaria e que se poderão rever no museu, nos seus espaços expositivos e nos seus espaços de memória documental.
O projecto do museu integra um projecto de centro de documentação que incluí a documentação reunida e a reunir acerca da indústria da chapelaria e também como elemento essencial - um acervo de testemunhos orais recolhidos segundo critérios científicos e em qualidade de arquivo.
Tal acervo será a base de trabalho de investigação antropológica.
A componente educativa e de comunicação está presente numa política de actividades que vão para além da expositiva e que, focando especialmente em públicos escolares, assume a tarefa de se dirigir a todos os públicos, independentemente do seu nível etário ou de escolarização.

Empresa Industrial da Chapelaria

Ficou conhecida entre as gentes da época pela "Fábrica Nova", e foi fundada em 1914 por António José Oliveira Júnior, figura grata a S. João da Madeira e a quem foi atribuído pelo governo de então o diploma de Mérito Industrial e Agrícola.
Inovadora ao nível das técnicas de fabrico e sempre actualizada perante as necessidades de mercado será também desta empresa a responsabilidade pela introdução do chapéu de lã merina (lã fina), o chamado "chapéu da moda", por ser em tudo diferente do antigo chapéu de lã grosseiro até então produzido. Sendo a única empresa do País a possuir as máquinas e técnicas do fabrico deste chapéu, a Empresa Industrial de Chapelaria manterá durante muitos anos o monopólio do fabrico e venda deste artigo.
Encerrada em 1995, a Empresa Industrial de Chapelaria acompanhará toda a história desta indústria, reflectindo naturalmente as suas épocas de prosperidade e declínio, ficando para sempre associada à imagem da fábrica que empregou e formou gerações sucessivas de chapeleiros e artífices que lhe devotaram uma vida inteira de trabalho.
Do ponto de vista regional, ou talvez mesmo nacional, a escolha para a localização de uma unidade museológica como esta, sustenta-se naturalmente pelas razões já aduzidas, uma vez que a indústria de chapéus se concentrou de forma significativa e sistemática em S. João da Madeira.
Refira-se a este propósito que a primeira fábrica de chapéus documentada instala-se em S. João da Madeira em 1802. Em 1909 existiam cerca 12 fábricas, uma a vapor que produzia anualmente 200.000 chapéus e 7 apropriagens (revendedores que compravam às fábricas os chapéus em feltro e os acabavam e vendiam por conta própria).
Com o início da fabricação do chapéu fino e a introdução das "máquinas", a melhoria de qualidade dos chapéus fabricados e a procura no estrangeiro de matéria-prima superior, a indústria de Chapelaria conhece em S. João da Madeira um grande desenvolvimento, especialmente a partir da I Guerra Mundial. Com o decorrer dos anos S. João da Madeira torna-se o principal centro de chapelaria do País. 
A título de exemplo refira-se que em 1946 as fábricas de chapelaria existentes em S. João da Madeira representavam 75% das unidades fabris de todo o país, sendo que dos 1775 operários desta indústria, 1263 exerciam a sua actividade no distrito de Aveiro, e destes, 1212 no Concelho de S. João da Madeira.
Esta posição cimeira manter-se-á ao longo de várias décadas (na década de 60 do século passado S. João da Madeira era já o único produtor nacional), toldando não só a estrutura económica da população, como sobretudo, contribuindo para o surgimento de uma cultura e vivências sociais muito própria neste concelho, e cuja história começa agora a ser analisada e interpretada.

Como surge o Museu da Chapelaria?
O Museu surgiu da vontade da Câmara Municipal de S. João da Madeira
A autarquia adquiriu espólio industrial resultante do encerramento de unidades fabris relacionadas com a indústria de chapelaria e adquiriu também o imóvel da mais importante unidade industrial deste ramo de actividade, a Empresa Industrial de Chapelaria (EICHAP).
Estas aquisições forneceram a base material para o início do processo de concepção do museu. Esse projecto nasceu no seio de uma equipa multidisciplinar que a ele se dedicou nas suas várias áreas. Tal projecto foi apresentado a duas instâncias principais: por um lado, junto do IPM/RPM na qualidade de candidato a financiamento do III QCA - que foi concedido; por outro lado, junto da comunidade científica e das comunidades locais - durante as I Jornadas de Museologia realizadas em S. João da Madeira, nas instalações que foram reconvertidas em museu.
Os anos de 2002 e 2003 representaram, para a equipa de trabalho, o grande período de investigação e estudo de colecções, com projectos financiados pela Rede Portuguesa de Museus, e foram anos estratégicos para a divulgação do museu junto da comunidade local, quer por intermédio de acções especificamente direccionadas (nomeadamente reuniões de trabalho, acções de divulgação, parcerias e desenvolvimento de projectos) quer através de acções abertas a toda a comunidade (exposições, visitas de estudo guiadas às fábricas parceiras do projecto, notícias ou reportagens na imprensa), sendo ainda de ressalvar, a participação em 2002 na Festa dos Museus, promovida pela ANMP.
Como iniciativa pioneira e mais abrangente em termos de público decorreu, em Novembro de 2003, a realização de uma exposição no Centro Comercial Fórum de Aveiro, que permitiu uma divulgação mais ampla do projecto dentro do Distrito de Aveiro.
O ano de 2004 ficou essencialmente marcado por quatro tipos de intervenção:
- Projectos de investigação (no âmbito do carregamento da base de dados e disponibilização online da informação);
- Conservação preventiva e restauro do espólio;
- Acções de comunicação com os públicos;
- Preparação e instalação do Museu.
A inauguração do Museu da Chapelaria aconteceu a 22 de Junho de 2005. 

Exposição permanente

A exposição permanente ou de longa duração contempla sete áreas distintas.
Cada área refere-se a uma fase de fabrico diferente, sendo apresentada nessa área as máquinas/ferramentas que contribuem para o processo e respectivas matérias-primas saídas de cada uma delas.
Pretendendo-se estimular uma visita multi-sensorial, o museu disponibiliza ao visitante essas mesmas matérias-primas, que podem ser vistas, tocadas, cheiradas... sentidas. Paralelamente, e porque os sons das máquinas e ferramentas são importante elemento do mundo fabril, reproduzimos em cada um dos sectores ou áreas de trabalho, os sons que se ouviriam se essas mesmas máquinas estivessem a funcionar.
Antes da visita terminar o visitante pode assistir ao acabamento de chapéus. Na sua bancada de trabalho a D. Deolinda, ex-operária da Empresa Industrial da Chapelaria, acaba os chapéus que serão vendidos na loja, explicando aos visitantes as diferentes fases do acabamento de um chapéu.
A última sala de exposição é dedicada ao chapéu, esse acessório de moda, sujeito às flutuações dos hábitos do vestir e do conviver social.
Da cartola de cerimónia ao chapéu de cowboy, do chapéu do Dr. Jorge Sampaio, Presidente da República, aos chapéus do Miguel Vieira, estilista, muitos são exemplares disponíveis, que periodicamente serão trocados por outros, valendo ser a pena voltar ao museu para conhecer as novidades que lá estarão.